sábado, 17 de outubro de 2009

Burrice

Chegamos no limite da burrice. Irreverência é punível e mau caráter é perdoável. Se o "calção" do Suplicy tem mais importância do que a farra do Sarney é porque estamos em uma nação em que imbecis ainda ocupam cadeiras no Congresso. É a cara da nossa política. Inteligência e humor são imperdoáveis. Já a desonestidade...
De acordo com o dicionário, decoro significa decência. E o que entendemos, como nação, ser decência? Quais são os nossos valores? O que realmente fere o decoro do Senado e nos afeta?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sou envergonhada. Chego a ter quase um pânico de passar pelo ridículo. É tamanho esse medo que sinto vergonha pelos outros. Mesmo com 33 anos ainda me escondo nas cobertas quando acho que alguém do filme vai passar por uma situação embaraçossa. Tenho humor e tal para rir de mim mesma quando a coisa acontece, mas mesmo assim, a antecipação da vergonha é terrível.
E isso acaba invadindo a minha vida de formas hilárias. Isso porque sempre me imagino fazendo besteira. Sempre. Na minha imaginação estou usualmente tropeçando, falando bobagem, cometendo erros, escorregando literal e metaforicamente. Quando isso acontece de fato, dou risada e supero. O que não significa que da próxima vez não vou morrer pensando na besteira que posso cometer.
No trabalho isso é terrível. Todo trabalho é quase uma tortura. Nunca acho que as coisas estão boas o suficientes. Imagino que errei dados, troquei endereços, ofendi alguém.
Na vida pessoal a coisa fica ainda mais terrível. Principalmente quando penso nas minhas idiotices bêbadas. Sempre acho que sou desagradável, que disse algo bem imbecil em algum momento.
Para piorar eu sou a envergonhada mais extrovertida do mundo. Porque muito bem (mal) resolvida que sou, acho que dou conta e me forço a entrar nas coisas sem titubear. Não quero perder nada. E depois me torturo. Ou seja, sou masoquista.
No resumo de tudo, acho que tenho sérios problemas de autoestima, mas tento dar um jeito para não deixar ninguém perceber.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Estou procurando apartamento. E na busca encontrei uma figura rara. Um velhinho fofo que quer deixar seu lar para voltar para Israel. Perdeu a mulher e não quer mais viver no lugar onde eles moraram por anos. Não quer nem a mobília, o negócio inclui tudo o que tem dentro (exceto pelo fogão, que ele aluga).
Na compra eu ganharia uma porta blindada, móveis comprados em exposições no Ibirapuera, torneiras com água quente e um armário lotado de azulejos - que ele comprou em excesso para garantir a reposição caso algum da casa estragasse. E cada peça e capricho ele mostrava com orgulho. São os tesouros construídos por amor àquele apartamento e ao seu lar.
Não sei se quero o apartamento, nem se gosto da ideia de ter uma porta blindada, os móveis não têm nada a ver comigo, mas fiquei morrendo de vontade de fechar negócio com ele. Só pelo carinho que criei por aquele senhor. Segurei minha risada várias vezes enquanto ele explicava a importância de ter uma porta blindada, mas entendi a preocupação.
Acho que ninguém tão doce teria uma casa que não fosse calorosa. E passei a tarde pensando nele. No amor com que ele falava da mulher, na forma como explicava com todos os detalhes os quatro cantos do apartamento. Enfim, acho que vou sonhar com o seu Abraão essa noite.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Drama

Esses dias, lendo meus textos, meu marido me perguntou se eu estava triste, insatisfeita. Dei risada, respondi que não, mas entendi o motivo da preocupação. Acho que quando escrevo não consigo dizer muito sobre felicidade. Ou não sinto necessidade de escrever sobre ela. São as minhas dúvidas e inseguranças que precisam ser expurgadas. A alegria eu prefiro guardar ou simplesmente não sei como trazer para o meu texto.
E só para sossegar meu amado, talvez seja por isso que eu não escreva tantas vezes quanto ele gostaria. Nesse momento sou mais feliz do que infeliz, embora essa drama seja parte da minha personalidade.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Com o tempo percebemos que o que gostaríamos de ser e o que somos na realidade são duas coisas totalmente diferentes. Da fantasia que temos sobre nós fica apenas um projeto. O projeto de não ser comum, de não nos misturarmos, de não passarmos despercebidos.
Quando eu era criança meu irmão Jorge dizia que eu era sua irmã colorida. Um dos melhores elogios que eu ganhei na vida. Também uma das minhas fantasias preferidas. Queria ser amiga colorida, namorada colorida, mãe colorida, tudo em cores. No entanto, acho fiquei preto e branco.
Quem sabe, com o passar dos anos eu não consigo chegar perto desse projeto e viro uma velhinha maluca. Com a boca borrada de batom, falando bobagens, divertindo os passantes, vivendo uma velhice colorida e cheia de gente tentando me proteger da minha irresponsabilidade. Essa sim, é uma fantasia que vale a pena.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Horrorizada comigo mesma, esses dias vi uma mulher sem teto, idosa, dormindo atrás de uma escada e virei o rosto. Fingi que não vi e segui em frente. Triste por não poder fazer nada, mas mais infeliz por saber que ser genuinamente solidário é um erro.
Existem milhões de benefícios em viver em uma grande cidade. Sou totalmente urbana e adoro. Mas há também os efeitos ruins. O pior deles, para mim, é a noção de que não podemos ser solidários. Claro que podemos doar dinheiro para um instituição ou servir como voluntários. Mas não estou falando disso. Gostaria de poder ter o mesmo senso de decência que tinha quando era adolescente e parava para ajudar.
Infelizmente, o mundo não permite mais isso. Sentimos medo. Achamos que parar no meio da rua e abrir a bolsa não é uma boa idéia. Andamos com a janela do carro fechada. E é isso aí. Não podemos mesmo agir da mesma forma. Não é possível. Podemos ser assaltados mesmo. Se antes eu ficava constrangida em desconfiar de alguém que poderia estar me seguindo para me assaltar, hoje eu sei que essa mesma desconfiança me livrou de pelo menos dois assaltos.
Adoraria abrir minhas portas para alguém em uma noite fria, mas não posso colocar a segurança da minha família em jogo. E eu sinto muito por isso. Não virei a pessoa que eu tinha certeza que me tornaria nesse ponto.
No final das contas, a cidade tirou de mim e de muitos amigos, a capacidade de ser espontâneo em minha generosidade e em meu senso de solidariedade. Podemos sentir, lamentar, mas não conseguimos mais ser o que gostaríamos de ser. A situação do mundo impede que tenhamos compaixão.
Então fazemos doações para instituições achando que estamos ajudando. Será? Tenho minhas dúvidas. Se mantivéssemos nossa noção de solidariedade talvez poderíamos fazer algo melhor, mais concreto. O problema é que para ser bons achamos que precisamos também estar seguros. E o problema nunca acaba.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Imagem

Existe uma diferença enorme entre a pessoa que vejo no espelho e a pessoa que imagino que sou. Nem para o bem nem para o mal, dificilmente consigo me olhar com honestidade, objetividade. Verdade seja dita, sempre confundo a real imagem com a de personagens que vivem na minha cabeça.
Alguns dias sinto minha pele quase se separando do resto do meu corpo. Como se estivesse deteriorando rapidamente. Minhas costas curvadas, meu queixo baixo. Vejo minhas formas estranhamente deformadas. Uma velhinha muito parecida com a bruxa que entrega a maçã envenenada para a Branca de Neve - um serzinho que sempre me assustou quando era criança.
Quando tenho acessos de fúria sinto como se virasse um ser detestável visualmente. Com uma boca incontrolável. A personificação do descontrole é tão forte que chego a me encolher quando lembro do momento de raiva e me vejo nessa forma odiosa.
Em outros momentos, os de solidão ou de tristeza, tenho a impressão de não ser corpo. De não ser pessoa, de não ser presença, mas sim névoa. Algo branco, enfumaçado, perdido e sem sentido.
Quando amo, sou pequena e terna. O suficiente para me aconchegar e caber nos espaços mornos do corpo do outro. Sou quase criança.
Alguns dias sou velha, outros sou jovem, outros sou indefinida. Nunca a pessoa do espelho.
Pela herança deixada na minha imaginação por filmes, músicas, livros, desenhos, quadros, histórias, acho que o meu cérebro não admite que nenhuma mudança visual aconteça quando vivo extremos. Não se conforma por não conseguir exteriorizar a enorme excitação interna que toma conta de tudo quando algo é marcante em minha vida.
Talvez por isso a palavra seja tão importante. A voz que consegue tirar de dentro todo o lixo, toda a beleza, toda a mediocridade que algumas vezes confundo com profundas conclusões. Nem sempre é possível fazer com que entendam a imagem, mas as palavras tentam tornar real algo que é apenas uma sensação. Eu mesma posso, através delas, perceber a dimensão verdadeira do que sinto. E geralmente o efeito é bem mais suave do que imaginava.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Spam

Dentre todo o lixo eletrônico que eu recebo diariamente, sempre oferecendo coisas que estão longe de me interessar, hoje um deles ganhou o prêmio de originalidade:

Você anda desconfiando da fidelidade de seu/sua parceiro(a)?Não quer contratar um detetive particular?Conheça o curso que preparamos para que você mesmo possa investigar.Isso mesmo! SEJA VOCÊ O DETETIVE! Com este kit você saberá de tudo! Não fique na dúvida, adquira agora mesmo!

Tá, acho que eu me divertia mais quando recebia ofertas de equipamentos prometendo aumentar partes do corpo que eu não tenho.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Difícil

Pitty posando de pin up é duro de engolir. As imagens são risíveis. Para quem tem interesse em rir um pouco ou algum fetiche com essa criatura http://www.mtv.com.br/pittysensual.
Pobre Dita, pobre Bettie Page...

Mais um que se vai

Da série Cinemas-Fantasma feita por Guilherme Caldas.





http://www.candyland.com.br/
A cada dia que passa fico mais e mais convencida de que o mundo em algum momento vai me enxotar. Não gosto de dirigir, não tenho a menor vontade de ter um carro, não quero fazer nenhum contato empresarial, detesto a idéia de que tudo tem de ser perfeito, moderno, adequado, higienizado e planejado. Nada me interessa menos do que a última novela, não quero gesso no meu teto nem mesa de centro na minha sala. Adoro galpões, botecos de bairro, sinuca e andar de metrô.
Embora dividida, gosto de ter parado de trabalhar para cuidar um pouco do meu filho e, com o perdão da palavra, foda-se quem acha que para ser independente é necessário ganhar dinheiro. Independência vem da inteligência e não da conta bancária. Defendo as mulheres que trabalham porque essa é a opção delas. E foda-se quem discorda, mas em algum momento vou sustentar a casa para o meu marido ter o direito de fazer o mesmo ou de ser um completo "inútil". E se for necessário, trabalharemos os dois. E é isso.
E só para constar, prefiro ir a um cinema ou a um parque do que ter onde estacionar um carro.
Desmontaram o Parque Alvorada e demoliram o Cine Plaza para construir uma igreja. Faz sentido. Afinal o mundo precisa de mais estacionamentos para os milhões de carros desnecessários. Necessitamos de novos púlpitos para os profetas que pipocam aos montes. Quem precisa de fantasia em uma realidade tão encantadora quanto a nossa? Quem precisa de filmes e diversão quando as pessoas estão inteligentes, perspicazes, humanas... Certo?
Cafeína, açúcar, álcool, música e depois sair. Ou levantei, tomei um café, comi um pão, tomei minha homeopatia, cantei a música do indiozinho e fui levar meu filho para a escola.
É fácil fazer uma vida parecer menos corriqueira do que ela realmente é.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O volume da música está ensurdecedor. A bebida já domina minha vontade. Olhando em volta só há um tremendo desconforto. Tudo é confusão. Tudo é bobagem. Frases inteligentes são ditas aos montes. Nenhuma que valha a pena. Esse sentimento que não passa. Essa impaciência. Quero algo que me derrube. Tento perder um pouco da lucidez. Mas esse sentimento não passa. Nada passa.
Vou para casa. Deito e ouço que cheguei cedo. Um silêncio morno toma conta de tudo. Um abraço. Paz. Tudo passa.
Entre todas as fotos que vi ontem, nas memórias de uma história que já não precisa ser coerente, reconstruí minha vida. Os abraços, as brigas, os sorrisos. Revi minhas falhas e meus orgulhos.
Tentei dar para as minhas perdas algum sentido. Ouvi as vozes que marcaram as noitadas bêbadas e mesmo as sóbrias. Reagi de novo, ruborizei de novo, a cada erro de julgamento e a cada elogio.
Voltei para minha infância por alguns segundos e cresci 33 anos em uma hora. Vi meu filho nascer. Reconheci de novo o primeiro choro dele como a voz que eu ouvia quando estava grávida. Então dormi com meu amor de novo como se isso nunca tivesse acontecido.

Queria ser um cartão postal

Gostaria de ser imagem. Apenas imagem. Uma figura imutável, silenciosa, eterna em apenas um momento, surda para o mundo, impenetrável, inaudível, bela, irretocável. Um postal, uma foto, um quadro, quem sabe uma estátua. Perfeita mesmo em minhas imperfeições.
Não sentir, não dizer, não ouvir, não desejar...
Em tudo que eu não posso ser existe esse desejo de ser apenas imagem. E não algo falho, mortal, barulhento, insensato, absolutamente sem mistério. Algo apenas imperfeito.