sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Nunca consigo saber o que realmente quero. Nem porque me preocupo tanto. Gostaria de ser mais impulsiva, corajosa. Esse medo que eu tão ardilosamente escondo do mundo e que internamente não consigo conter é também meu maior arrependimento. O que não fazemos por conta do medo e da insegurança é uma ausência mais doída. Detesto saber o que eu desejo ou o que desejei e não busquei. O que poderia ser e não sou.

sábado, 17 de outubro de 2009

Burrice

Chegamos no limite da burrice. Irreverência é punível e mau caráter é perdoável. Se o "calção" do Suplicy tem mais importância do que a farra do Sarney é porque estamos em uma nação em que imbecis ainda ocupam cadeiras no Congresso. É a cara da nossa política. Inteligência e humor são imperdoáveis. Já a desonestidade...
De acordo com o dicionário, decoro significa decência. E o que entendemos, como nação, ser decência? Quais são os nossos valores? O que realmente fere o decoro do Senado e nos afeta?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sou envergonhada. Chego a ter quase um pânico de passar pelo ridículo. É tamanho esse medo que sinto vergonha pelos outros. Mesmo com 33 anos ainda me escondo nas cobertas quando acho que alguém do filme vai passar por uma situação embaraçossa. Tenho humor e tal para rir de mim mesma quando a coisa acontece, mas mesmo assim, a antecipação da vergonha é terrível.
E isso acaba invadindo a minha vida de formas hilárias. Isso porque sempre me imagino fazendo besteira. Sempre. Na minha imaginação estou usualmente tropeçando, falando bobagem, cometendo erros, escorregando literal e metaforicamente. Quando isso acontece de fato, dou risada e supero. O que não significa que da próxima vez não vou morrer pensando na besteira que posso cometer.
No trabalho isso é terrível. Todo trabalho é quase uma tortura. Nunca acho que as coisas estão boas o suficientes. Imagino que errei dados, troquei endereços, ofendi alguém.
Na vida pessoal a coisa fica ainda mais terrível. Principalmente quando penso nas minhas idiotices bêbadas. Sempre acho que sou desagradável, que disse algo bem imbecil em algum momento.
Para piorar eu sou a envergonhada mais extrovertida do mundo. Porque muito bem (mal) resolvida que sou, acho que dou conta e me forço a entrar nas coisas sem titubear. Não quero perder nada. E depois me torturo. Ou seja, sou masoquista.
No resumo de tudo, acho que tenho sérios problemas de autoestima, mas tento dar um jeito para não deixar ninguém perceber.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Estou procurando apartamento. E na busca encontrei uma figura rara. Um velhinho fofo que quer deixar seu lar para voltar para Israel. Perdeu a mulher e não quer mais viver no lugar onde eles moraram por anos. Não quer nem a mobília, o negócio inclui tudo o que tem dentro (exceto pelo fogão, que ele aluga).
Na compra eu ganharia uma porta blindada, móveis comprados em exposições no Ibirapuera, torneiras com água quente e um armário lotado de azulejos - que ele comprou em excesso para garantir a reposição caso algum da casa estragasse. E cada peça e capricho ele mostrava com orgulho. São os tesouros construídos por amor àquele apartamento e ao seu lar.
Não sei se quero o apartamento, nem se gosto da ideia de ter uma porta blindada, os móveis não têm nada a ver comigo, mas fiquei morrendo de vontade de fechar negócio com ele. Só pelo carinho que criei por aquele senhor. Segurei minha risada várias vezes enquanto ele explicava a importância de ter uma porta blindada, mas entendi a preocupação.
Acho que ninguém tão doce teria uma casa que não fosse calorosa. E passei a tarde pensando nele. No amor com que ele falava da mulher, na forma como explicava com todos os detalhes os quatro cantos do apartamento. Enfim, acho que vou sonhar com o seu Abraão essa noite.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Drama

Esses dias, lendo meus textos, meu marido me perguntou se eu estava triste, insatisfeita. Dei risada, respondi que não, mas entendi o motivo da preocupação. Acho que quando escrevo não consigo dizer muito sobre felicidade. Ou não sinto necessidade de escrever sobre ela. São as minhas dúvidas e inseguranças que precisam ser expurgadas. A alegria eu prefiro guardar ou simplesmente não sei como trazer para o meu texto.
E só para sossegar meu amado, talvez seja por isso que eu não escreva tantas vezes quanto ele gostaria. Nesse momento sou mais feliz do que infeliz, embora essa drama seja parte da minha personalidade.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Com o tempo percebemos que o que gostaríamos de ser e o que somos na realidade são duas coisas totalmente diferentes. Da fantasia que temos sobre nós fica apenas um projeto. O projeto de não ser comum, de não nos misturarmos, de não passarmos despercebidos.
Quando eu era criança meu irmão Jorge dizia que eu era sua irmã colorida. Um dos melhores elogios que eu ganhei na vida. Também uma das minhas fantasias preferidas. Queria ser amiga colorida, namorada colorida, mãe colorida, tudo em cores. No entanto, acho fiquei preto e branco.
Quem sabe, com o passar dos anos eu não consigo chegar perto desse projeto e viro uma velhinha maluca. Com a boca borrada de batom, falando bobagens, divertindo os passantes, vivendo uma velhice colorida e cheia de gente tentando me proteger da minha irresponsabilidade. Essa sim, é uma fantasia que vale a pena.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Horrorizada comigo mesma, esses dias vi uma mulher sem teto, idosa, dormindo atrás de uma escada e virei o rosto. Fingi que não vi e segui em frente. Triste por não poder fazer nada, mas mais infeliz por saber que ser genuinamente solidário é um erro.
Existem milhões de benefícios em viver em uma grande cidade. Sou totalmente urbana e adoro. Mas há também os efeitos ruins. O pior deles, para mim, é a noção de que não podemos ser solidários. Claro que podemos doar dinheiro para um instituição ou servir como voluntários. Mas não estou falando disso. Gostaria de poder ter o mesmo senso de decência que tinha quando era adolescente e parava para ajudar.
Infelizmente, o mundo não permite mais isso. Sentimos medo. Achamos que parar no meio da rua e abrir a bolsa não é uma boa idéia. Andamos com a janela do carro fechada. E é isso aí. Não podemos mesmo agir da mesma forma. Não é possível. Podemos ser assaltados mesmo. Se antes eu ficava constrangida em desconfiar de alguém que poderia estar me seguindo para me assaltar, hoje eu sei que essa mesma desconfiança me livrou de pelo menos dois assaltos.
Adoraria abrir minhas portas para alguém em uma noite fria, mas não posso colocar a segurança da minha família em jogo. E eu sinto muito por isso. Não virei a pessoa que eu tinha certeza que me tornaria nesse ponto.
No final das contas, a cidade tirou de mim e de muitos amigos, a capacidade de ser espontâneo em minha generosidade e em meu senso de solidariedade. Podemos sentir, lamentar, mas não conseguimos mais ser o que gostaríamos de ser. A situação do mundo impede que tenhamos compaixão.
Então fazemos doações para instituições achando que estamos ajudando. Será? Tenho minhas dúvidas. Se mantivéssemos nossa noção de solidariedade talvez poderíamos fazer algo melhor, mais concreto. O problema é que para ser bons achamos que precisamos também estar seguros. E o problema nunca acaba.